terça-feira, 9 de março de 2010

Contos:MULHERES DANDO NÓS EM CAUDAS E CRINAS DE CAVALOS

A Madame Estória Mexerica, conta que as mulheres bruxas costumam, para levar a cabo suas malvadezas bruxólicas, roubar cavalos nos pastos e potreiros, fazê-los galopar pelos ares e dar-lhes nós indesatáveis nos rabos e nas crinas deles.
Quando isto acontece, seus donos quase sempre são obrigados a cortar parte dos pelos dos seus animais.
Franklin Joaquim Cascaes/Ilha de Santa Catarina
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Conto:O BOITATÁ

Este boitatá está passeando sobre a Ilha de Santa Catarina.
É meia-noite. Ele está apreciando,de riba, as sessenta praias que ela possui, brancas quiném jasmim.
Para afugentá-lo a pessoa que o avista deve chamar a outra que estiver mais perto e gritar assim: "Zenobra, trás a corda do sino mode amarrar o boitatá, que lele anda por aqui!"
Ele foge imediatamente do mundo fasinante da fantasia humana.
Franklin Joaquim Cascaes/Ilha de Santa Catarina
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Conto:MULHERES BRUXAS ATACANDO CAVALOS

Foi do pensamento inculto do homem de argila humana crua, que nasceu as estórias de que cavalos galopeiam pelos ares, quando são atacados por mulheres bruxas em atividades extra-terrenas, para chupar-lhes o sangue.
Contam que no dia seguinte, os animais que foram atacados durante a noite, e que galopearam pelos espaços siderais, apresentam-se sangrando, e com nós indesátaveis nas crinas e nos rabos.
Apontam como responsáveis pelos atos demoníacos bruxólicos, mulheres de suas comunidades, que são magras, feias e sujas, e que apresentam um dente no céu estrelado da boca e falam grosso quénem Homem gordo, nariz aquelino, etc.
Na ilha de Santa Catarina é muito comum o homem do interior cercar os ranchos ou estrbarias onde recolhem o seu gado, com redes de pescaria usadas, porque as bruxas também os chupam, acreditam, dentro da noite.
Hoje, no século vinte, a madame ciência afirma que quem faz os cavalos galoparem é o morcego, transmissor da raiva, não pelos ares, mas sim, campo a dentro.
Ora vejam, meus amigos,Que nesta Ilha encantada, Até bruxas são astronautas, Que pilotam cavalhada.
Na bonita praia do Rapa, De aguá azul e saborosa, Elas entram de biquini,E saem cobertas de rosas.
Franklin Joaquim Cascaes/Ilha de Santa Catarina
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Conto:BALÉ DE MULHERES BRUXAS

Depois de haverem chupado muito sangue de inocentes criancinhas, sem serem molestadas por benzedeiras, armadilhas e outros, esta caterva de mulheres resolveram comemorar a vitória diabólica, com uma dança de balé bruxólico no Morro do rapa no exremo norte da Ilha de Santa Catarina, sobre a batta rubra do ex-anjo Lúcifer.
Afirma a Madame Estória, que as mulheres bruxas possuem uma inteligência excepcional, a qual elas usam sempre para ludibriar o homem de argila humana crua.
Por isto, elas vivem às turras com benzedores, armadilhas e outros, desde os séculos dos séculos.
Madame Est'toria vê,O sinistro LuciferBispando o lote de bruxas, Que está dançando balé.
Após haverem chupadoMuito sangue de criança,Estas bruxas elegantes, urdiram esta Festança.
O balé que elas usam. É o balé da bruxaria. Marcado nas horas mortas,Quando vem o fim do dia.
Hó! minha Ilha encantadora, Meu fraco é sempre te amar.Pois tu és catita bruxinhaQue repousa sobre o mar
Franklin Joaquim Cascaes
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Conto:A BRUXA METAMORFOSEOU O SAPATO

O Sabinano da Ponta das Canas, tinha uma filhinha embruxada, que até metia dó à própria bruxa que a vinha sacrificando há muitos meses.
Aconselhado por amigos, ele passou a tratar a criança com um benzedor que morava na praia dos Ingleses.
O benzedor chamava-se Sotero das Capivaras e era um famoso curador de doenças dos outros mundos. Mas o tratamento que ele vinha aplicando para a criança do Sabiano não estava a produzir resultados satisfatórios.
O dia marcado para ele voltar a casa do benzedor foi uma sexta-feira.
De manhã bem cedo, o Sabiano levantou-se arrumou o gado no potreiro, tomou cafe, lavou os pés na gamela promode os havia sujado, enxugou-os, e pediu à mulher que lhe apanhasse os sapatos que estavam pendurados nos caibrosdo telhado da varanda.
A mulher dele, a Sotera, foi apanhá-los, mas só encontrou o sapato do pé direito, o outro não estava.
Procuraram em toda a casa, mas cuáli nada, não tava em nenhum lugar.
Pensou consigo: deve ter sido o cumpadre Zé Maratato.
Aquilo anda sempre pricurando coisas mode fazer das suas...
O tempo tá seco e o mihió memo prá mode a gente caminhá é descalço.
Apanhou uma cesta tecida de folhas de tabua, botou um vidro branco dentro e rasgou os pés no caminho, na direção dos rios das Capiras dos Inglêses.
Consultou o doutro curandeiro, apanhou o remédio e mandou-se de volta a caminho de casa.
Já havia caminhado um bom pedaço, quando algo chamoulhe a atenção.
Olhou na direção da Ilha Mata Fome, e se deparou com um quadro curioso e horrível: uma bruxa passando pelo mar com o sapato dele transformado num barco, com uma vela bem enfunasa quiném lancha baleeira, passeando mui calmamente.
Apavorado com o que vira, retornou a casa do benzedor e narrou-lhe o fato.
O doutro benzedor apanhou um dente de alho com casca e mandou que ele o colocasse na boca e voltasse descançado para casa. Quanto à bruxa, ele a faria perder o estado fadórico, e consequintemente, o encanto, dentro de poucos minutos.
Ele atendeu a ordem do benzedor e calçou os pés no areião do caminho, de volta prá casa.
Quando chegou no terreiro, a Sotera já estava com a notícia bruxólica na pontinha da língua quase escapulindo.
_ "Sabiano, o teu sapato apodreceu nos caibros da varanda, molhado, sujo de areia da praia, e com um furo bem inrriba do bico."
_ Logo vi que aquela ègua ia dar-me prejuizo.
Ela furou o meu sapato prá mode meter o mastro da vela.
Franklin Joaquim Cascaes/Ilha de Santa Catarina
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Conto:NOSSA SENHORA, O LINGUADO E O SIRI

Conta a estória que certa ocasião Nossa Senhora precisou atravessar o mar, mas não tinha certeza se a maré iria encher ou vasar.
Estava parada na praia; praia esta que deveria ser no continente, mas ela queria passar para a mais bela ilha da terra, a Ilha de Santa Catarina, quando surgiu um bonito linguado nadando alí perto dela.
Com toda sua beleza e ternura celestial, dirigiu-se ao peixe linguado, indagando-lhe se sabia ou não se a maré ia encher ou vasar.
O linguado respondeu a pergunta da Senhora, remedando-a. Ficou com a boca torta.
Um siri que havia escutado a indagação da Senhora e a deseducada resposta do linguado, dirigiu-se a ela com toda educação sirinesca, e lhe ofereceu uma carona até a praia onde ela queria alcançar.
Afirma a estória que o resultado deste acontecimento lendário é o seguinte: o linguado ficou com a boca deformada. No casco do siri se observa, em baixo relevo, a figura de uma senhora segurando os lados da saia, para não molhá-la. Deve ser o retrato de Nossa Senhora, num ato celestial sublime de sincero agradecimento, pela atitude hospitaleira do frágil crustáceo.

Franklin Joaquim Cascaes /1968
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Conto:Balanço Bruxólico

"Contou-me a seguinte estória acontecida na Ilha de Santa Catarina - Ilha dos trezentos engenhos de fabricar farinha de mandioca - o Sr. José Silveira residente no Canto da Lagoa da Conceição: que seus antepassados fizeram uma derrubada no Morro da Lagoa prá mode fazerem uma plantação de mandioca e mihio. Aconteceu - continuou o narrador - que na margem da roça derrubaram um grande tanheiro, bem vazado, que ficou caído ao pé de uma grande árvore que tinha em si um cipó enroscado e que de lá do alto das ramagens dixava cair um grande seio em forma de balanço.
Quando começaram a fazer a plantação, sentiram cheiro de fumaça de querosene, que saía de dentro do vazado do tanheiro, e também porque ali faziam a comida, notaram que as panelas amanheciam sujas e as ferramentas atiradas pelo chão, como se alguém dentro da noite lá aparecesse somente para fazer malvadezas.
Desconfiados com a situação, passaram a vigiar o lugar e constataram que dentro da noite a ramagem da árvore que tinha o balanço, era tomado por luzes de várias formas e tamanhos e que se movimentavam para direções diversas.
Encorajados por uma mulher benzedeira muito entendida e poderosa destas coisas dos outros mundos, subiram o morro protegidos com bentinhos, breves, figas, mostarda, arruda, cisco das três marés, água benta, vela benta, folhas de guiné, que são verdadeiras armas contra o poder diabólico destes trasgos dos infernos.
O que encontraram e viram era horripilante para os olhos humanos. As árvores tinham na base formas de pés de vários animais, lamparinas dançavam metamorfoseadas em forma humana; na boca do tanheiro derrubado estava um bicho em forma de morcego; no alto da árvore a canga do carro de boi estava pousada, ao lado de uma lamparina; um pouco abaixo uma coruja com cara de roda de carro de boi enfeitada com um par de antolhos; e no centro de tudo, de toda fantasmogênese uma bruxa se balançava no cipó fantasiada de cabeça de boi com pernas traseiras e mãos dianteiras, também de boi, e sendo a cabeça uma roda de carro de boi.
Todas as pedras que ali viviam estavam metamorfoseadas em atitude de exorcismo.
A coruja que aparece metamorfoseada no meio da árvore, se destaca como um observador cultural, deste tipo de cultura que o Povo antigo conduz em sua bagagem tradicional ..."
Franklin Joaquim Cascaes
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